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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

«BAILE», poema de Wislawa Szymborska

Wislawa Szymborska - fotografia retirada de http://www.valor.com.br 

















Enquanto não se souber nada de certo
por faltarem sinais que cheguem até nós,

enquanto a Terra não for
como os planetas, até agora, próximos e distantes,

enquanto não houver novas nem mandados
de outras ervas honradas pelo vento,
de outras árvores majestosas,
de outros animais comprovados como nossos,

enquanto não existir outro eco além do nativo
que saiba falar por sílabas,

enquanto não se tiver notícia
de melhores ou piores
mozarts, edisons ou platões,

enquanto os nossos crimes
só entre si puderem rivalizar,

enquanto a nossa bondade
não se assemelhar à de mais ninguém
e for excepcional até na sua imperfeição,

enquanto as nossas cabeças cheias de ilusões
passarem por ser as únicas cabeças cheias de ilusões,

enquanto só do céu das nossas bocas
subirem clamores ao céu,

sintamo-nos convidados especiais
e distintos neste baile dos bombeiros e
dancemos ao ritmo da banda local,
na ilusão de que este seja
o baile dos bailes.

Não sei como é para os outros,
mas para eu ser feliz e infeliz
basta-me em absoluto:

uma aldeola perdida
nos quintos das estrelas,
à qual elas mandam umas
piscadelas insignificantes.

In «Instante», de Wislawa Szymborska (tradução de Elżbieta Milewska e Sérgio Neves), Relógio D’Água Editores, Janeiro de 2006 (1.ª edição).

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