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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

«O ÊXTASE» poema de Paul Éluard (do livro «Le temps déborde»)

Paul Éluard – Foto retirada de cantarapeledelontra.blogspot.com






















Estou diante desta paisagem feminina
Como uma criança diante do fogo
Sorrindo vagamente de lágrimas nos olhos
Perante esta paisagem onde tudo me convulsiona
Onde espelhos se embaciam onde espelhos se iluminam
Reflectindo dois corpos nus estação contra estação

Tenho tantas razões para me perder
Nesta terra sem caminhos e neste céu sem horizonte
Belas razões que ainda ontem ignorava
E nunca mais esquecerei
Belas chaves dos olhares chaves filhas de si-mesmas
Diante desta paisagem cuja natureza é minha

Diante do fogo o primeiro fogo
Boa razão dominante
Estrela identificada
E na terra e sob o céu fora do meu coração e no meu coração
Segundo botão primeira folha verde
Que o mar cobre com as suas asas

E no fim de tudo o sol vindo de nós
Estou diante desta paisagem feminina
Como um ramo mergulhado no fogo.

24 de Novembro de 1946 

In «Poemas de Amor e de Liberdade», de Paul Éluard (escolhidos por Jacques Gaucheron e os seus amigos; tradução de Egito Gonçalves), Campo das Letras, Porto, Maio de 2000 (1.ª edição). 

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