Al Berto – Ver http://nescritas.com/homenagemalberto/indiceobra.html
|
abres o mapa da europa e
fulmina
a narceja e o leite sábio das mães
coalhou
num sabor a plâncton e húmus
na
floreira da janela virada ao mar
secaram
os goivos dos navegantes e um cardo amarelo
irrompeu
hirsuto e firme – o tempo chuvoso
alastra
pelas ruelas insinuando-se na alma
uma
babugem grossa de maresia – a europa afasta-se
com
seus falhanços ao som dos tambores de água
recordas
assim a noite varada à porta dos grandes frios
o
corpo carbonizado que perdeu a nacionalidade
as
cidades sem nome o acidente a auto-estrada
o
recado deixado no café a cerveja entornada
o
alarme da noite a fuga
a
terra dos gelos eternos a viagem sem fim a faca
rente
ao pescoço e os comboios e a ponte ligando
a
treva à treva
um
país a outro país – onde dissemos coisas que matam
e
largam rastros de aço nas pálpebras
mas
no
cansaço da torna-viagem no desalento de tudo
o
mapa da europa ficou aberto no sítio
onde
desapareceste
ouço
o atlântico uivando de abandono
enquanto
os dedos se cansam a pouco e pouco
na
lenta escrita de um diário – depois
fecho
o mapa e vou
pela
crueldade desta década sem paixão
Sem comentários:
Enviar um comentário