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terça-feira, 1 de março de 2016

Joaquim Namorado: por uma «outra humanidade»

Joaquim Namorado – foto encontrada em http://gtbib-amrs.blogspot.pt

Joaquim Namorado poeta neo-realista, ou abencerragem romântico?
Encarnação de poeta maldito, quando, na sua juvenil «Invenção do Poeta», evoca ou se identifica com Judas e Caim?
Ou antes poeta revolucionário quando se assume qual Prometeu moderno, em que o seu sangue é bandeira, como no poema de «A Guerra e a Paz» que passo a ler:

Abafai meus gritos com mordaças,
maior será minha ânsia de gritá-los!

Amarrai meus pulsos com grilhões,
maior será minha ânsia de quebrá-los!

Rasgai a minha carne!
Triturai os meus ossos!

O meu sangue será minha bandeira
e meus ossos o cimento duma outra humanidade.

Que aqui ninguém se entrega
– isto é vencer ou morrer –
é na vida que se perde
que há mais ânsia de viver!

Talvez seja este o poema-grito que melhor revela o poeta militante – o portador de nova chama, para uma «outra humanidade» - a socialista.
Poeta de diversos registos, foi, entre os neo-realistas, tal como o precursor Dias Lourenço, atento ao mundo do operariado, designadamente, fabril. Leia-se, a confirmá-lo, incluída em «Aviso à Navegação», a parte intitulada «Arquitectura», onde o poeta matemático, epigrafando Cesário Verde, «Só sei desenho de compasso e esquadro», inclui fábricas, máquinas, andaimes, sirenes, motores, condutores, operários de ganga, numa intencionalidade não futurista mas realista, como que em contraponto ao registo desse outro poeta neo-realista, como ele alentejano, o Manuel da Fonseca, este vivenciando o campesinato e a vida provinciana, Joaquim Namorado já exaltando, idealmente, o mundo do proletariado operário.

In «Testemunho de neo-realismos», de Arquimedes da Silva Santos, Livros Horizonte, Lisboa, Abril de 2001 (1.ª edição).

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